MOBILIDADE URBANA EM OUTRAS
CAPITAIS BRASILEIRAS - MEF33241 - BEAP
MANOEL PAULO DE OLIVEIRA *
Em
artigo anterior discorremos sobre as questões de mobilidade urbana e transporte
público em Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro, dando continuidade, neste
ensejo, abordando as referidas questões e sua evolução na Capital Federal,
Salvador e Recife.
É
interessante observar que as soluções tecnológicas até caminham na mesma linha,
porém demandam longas pesquisas e extensos projetos técnicos para se adequarem
às características peculiares de cada cidade como sua formação geográfica, sua
densidade populacional, sua vocação econômica e seus recursos naturais
disponíveis. Vejamos:
BRASÍLIA
O
Governo JK e o Plano de Metas - 1956/61 - 50 Anos em 5 - Modal de Transportes
Brasília é uma cidade planejada, mas para os
carros, e hoje as pessoas sentem ainda mais esta realidade pelos
congestionamentos e poluição.
Planejado
para automóveis, Distrito Federal agora sofre com poluição extrema, diz
relatório oficial.
Distrito
Federal necessita de mais metrô e de mais corredores para tirar os ônibus dos
congestionamentos e deixar os transportes públicos mais atrativos.
A
maior parte das emissões de gases de efeito estufa vem justamente da queima de
combustível de uso veicular. Carros e motos são os principais vilões.
Como
se sabe, historicamente, o plano de Juscelino Kubitschek que “revolucionaria” o
Brasil teve obviamente sua importância e não se deve deixar de lado os méritos
do considerado pioneiro da Arquitetura modernista brasileira, Lúcio Costa,
autor do projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília, que começou em 1956.
A cidade foi inaugurada oficialmente em 21 de abril de 1960, um projeto de
governo do então presidente Juscelino Kubitschek, desde sua posse em janeiro de
1956.
Apesar
de sim, representar modernidade para a época, Brasília é algo que as cidades
não precisam ser hoje em dia.
Nesta
semana, a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural,
divulgou o inédito Inventário de Emissão por Fontes e Remoção por Sumidouros de
Gases de Efeito Estufa do Distrito Federal.
Os
resultados são surpreendentes pelos números, mas não pela lógica.
Praticamente
metade das emissões de gases de efeito estufa, como o dióxido de carbono entre
2005 e 2012, período do estudo, no ar do Distrito Federal vem justamente pelo
segmento de transporte.
E
pelo tipo de combustível, o grande vilão da poluição é justamente o automóvel,
responsável por praticamente 70% das emissões dentro do segmento de
transportes.
O
estudo faz um alerta para a necessidade de ampliação das redes de transportes
públicos, com o crescimento da malha de metrô e de corredores de ônibus, que,
com espaço privilegiado na cidade, ganham eficiência e capacidade, podendo
assim convencer mais pessoas a deixarem os automóveis em casa no dia a dia.
O
relatório é bem claro ao mostrar que o maior crescimento de emissões pelos
veículos ocorreu justamente no período em que a indústria automotiva recebeu
benefícios fiscais do Governo Federal.
Se,
por um lado, houve planejamento em Brasília, mesmo que privilegiando os carros
em vez das pessoas, por outro lado as cidades do Distrito Federal sofrem com a
falta de infraestrutura e com crescimento desorganizado ao longo da História, o
que impacta também na necessidade de criação de uma malha para os transportes
públicos pensando em toda a região e na integração com os municípios próximos
que ficam em Goiás.
O
Distrito Federal possui uma das maiores relações de veículos por habitantes.
São
55 automóveis para um grupo de 100 habitantes, aproximadamente.
O
problema não é apenas a taxa de motorização, mas o uso que se faz do automóvel.
Isso inclui as viagens diárias que poderiam ser feitas em redes de transportes
públicos eficientes e até mesmo os pequenos deslocamentos, que deveriam ser não
motorizados.
O
Decreto nº 7.390, de 9 de dezembro de 2010, da Presidência da República,
determina que até 2020 todas as unidades da Federação reduzam em ao menos 40%
as taxas de emissões de gases de efeito estufa. Os transportes coletivos devem
estar nos planos para que esta meta seja alcançada.
O
PLANO DE MOBILIDADE CIRCULA BRASÍLIA
O
governo local divulgou o Programa de Mobilidade Urbana do Distrito Federal,
denominado “Circula Brasília”.
A
primeira fase deve custar R$ 6 bilhões e o valor do total deve chegar a R$ 15
bilhões.
Do
valor inicial, R$ 2,57 bilhões por meio de Parcerias Público-Privadas -PPP.
Já
R$ 1,5 bilhão deve vir do Governo Federal - GDF, R$ 1,6 bilhão de
financiamentos e o restante do caixa do Governo do Distrito Federal.
Com
a expansão do metrô e do Expresso Sul, a adoção do veículo leve sobre trilhos
(VLT) e a estruturação da rede cicloviária, entre
outras medidas, cerca de 90% da população da cidade será beneficiada com 277,18
quilômetros de rede integrada de transporte público. Atualmente, são 110,38
quilômetros de corredores exclusivos, faixas preferenciais e vias metroviárias.
As ações fazem parte do Circula Brasília - Programa de Mobilidade Urbana do
Distrito Federal no Memorial Juscelino Kubitscheck.
O
Circula Brasília engloba as ações do Executivo de curto, médio e longo prazos
para melhorar o setor. Algumas delas são executadas desde o ano passado. De
acordo com levantamento da Secretaria de Mobilidade, de 2005 a 2015, a frota em
Brasília aumentou 99,63%, chegando a 1.649.563 veículos.
Com
investimento previsto de R$ 15 bilhões, o Circula Brasília é um conjunto de 80
ações — gestão, projetos e obras — que serão executadas em, no mínimo, dez
anos. Há três focos principais: melhorias no sistema de transporte coletivo,
ampliação da infraestrutura e investimento na mobilidade ativa — ambientes
seguros para os deslocamentos a pé e por bicicleta.
Coordenado
pela pasta de Mobilidade, o Circula Brasília é um programa executivo de Estado
que dá prioridade a investimentos no transporte coletivo (que hoje corresponde
a 32% das viagens no DF) e no não motorizado (23%), como bicicletas e a pé. As
medidas envolverão a melhoria da integração entre os meios, a requalificação
urbana — construção de calçadas e de ciclovias —, a adoção de novas tecnologias
e a valorização da acessibilidade.
TRANSPORTE
COLETIVO
Para
melhorar o sistema, o governo de Brasília promove mudanças desde o início de
2015. Águas Claras, Ceilândia, Cruzeiro, Plano
Piloto, Samambaia e Santa Maria são algumas das regiões administrativas que
tiveram linhas de ônibus e do Expresso Sul readequadas ou criadas para atender
mais pessoas e reduzir o tempo entre as viagens.
Até
o fim deste ano, nove terminais rodoviários em reforma e quatro novos serão
entregues à população. Esses se juntarão aos quatro reinaugurados em 2015 (Ceilândia, Gama, Riacho Fundo II e Sobradinho II). Os
recursos de R$ 33 milhões para as reformas e construções dos terminais são de
contrato firmado em 2008 com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Além desse investimento, o governo vai instalar e reformar pontos de ônibus,
construir o Terminal de Integração Multimodal Asa Norte e aprimorar o Terminal
de Integração Multimodal Asa Sul. As paradas do corredor exclusivo da Estrada
Parque Taguatinga-Guará (EPTG) serão ativadas com a
aquisição de veículos com portas que abram para os dois lados.
O
Expresso Sul terá a operação concluída, ou seja, as 13 estações estarão em
funcionamento. A ação inclui a construção de novos trechos, o projeto do
Terminal da Rodoferroviária e melhorias operacionais nos terminais do Gama, de
Santa Maria e da Rodoviária do Plano Piloto.
O
governo criará os Expressos Norte, Noroeste, Leste, Sudoeste e Aeroporto. Parte
dos recursos e a manutenção virão de parcerias público-privadas. Ao término das
obras, a rede terá 155 quilômetros de corredores exclusivos e 30 de faixas
preferenciais.
METRÔ
E VLT
O
investimento no transporte coletivo também abrange o metrô e o veículo leve
sobre trilhos (VLT). No caso do primeiro, estão previstas a construção das
expansões de Samambaia, com 3,7 quilômetros e duas novas estações; de Ceilândia, com 2,3 quilômetros e duas novas estações; e do
Hospital Regional da Asa Norte (Hran), com 800 metros
e uma nova estação. Além disso, haverá contratação e desenvolvimento de projeto
de engenharia ligando a Estação Hran ao Terminal Asa
Norte, numa extensão de 6 quilômetros e oito estações.
As
ações no metrô não se resumirão às linhas. Nas estações, será instalada
infraestrutura de guarda de bicicletas. Nos arredores, ciclovias, ciclofaixas, bicicletas compartilhadas, zonas de tráfego e
calçadas compartilhadas. Desde 2015, são permitidas até cinco bicicletas no
último carro durante a semana e, aos sábados e domingos, não há limite.
O
Circula Brasília prevê a contratação e o desenvolvimento de projeto de
engenharia das Linhas 1 e 2 do VLT. A primeira ligará o Terminal Asa Sul ao
Terminal Asa Norte, com 15 quilômetros de extensão, pela W3. A segunda passará
pela Esplanada dos Ministérios, pela Rodoviária do Plano Piloto e pelo Eixo
Monumental até a Estação Rodoferroviária, com uma derivação pelo Setor de
Indústrias Gráficas, pelo Sudoeste e pelo Setor de Indústria e Abastecimento,
com 22 quilômetros.
TECNOLOGIA
Em
fase de instalação, o Centro de Controle Operacional funcionará na sede do
Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). Por
meio dele, o governo poderá rastrear os ônibus em tempo real - GPS - e informar
aos cidadãos o horário em que o veículo passará. A informação será passada por
aplicativo baixado em computador, celular ou tablet.
O controle também será feito por sistema de video-monitoramento.
Aplicativo
semelhante está em fase de testes para os usuários dos serviços da Companhia do
Metropolitano do Distrito Federal (Metrô-DF) na
Estação Arniqueiras. O utilitário permite que
passageiros vejam rotas e horários dos veículos.
Outro
benefício para os cidadãos será a implementação de rede de internet wi-fi nos terminais de maior rotatividade. O metrô conta
com o acesso nas Estações Central, Galeria, Feira e Águas Claras.
MOBILIDADE
ATIVA
A
integração entre pedestres, bicicletas e transporte coletivo é um dos
fundamentos da mobilidade ativa. Entre as ações, estão estruturação de uma rede
cicloviária, uso compartilhado de bicicletas e
reconfiguração de calçadas, inclusive com a instalação de iluminação pública.
Para
oferecer à população uma rede cicloviária precisa e
útil, o governo mapeia a necessidade em cada região administrativa.
Está
prevista ainda a instalação gradativa de paraciclos —
estacionamentos de curta ou de média duração para bicicletas — próximo a empreendi-mentos que provoquem o aumento do fluxo de
pedestres e de veículos. Além disso, haverá ampliação para outras regiões
administrativas do sistema de bicicletas compartilhadas. Hoje são 400 unidades
em 40 pontos no Plano Piloto.
OBRAS
O
Circula Brasília também contempla obras de infraestrutura viária, como o trevo
de triagem norte, a ligação Torto-Colorado, o túnel de Taguatinga e a DF-047.
Acordo
do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) com o Banco
Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) garantiu R$ 146 milhões
para a construção das pistas do trecho Torto-Colorado e do trevo de triagem
norte. O investimento contará ainda com contrapartida de R$ 51 milhões do
governo local. As obras estão previstas para iniciar neste semestre.
As
benfeitorias começaram no segundo semestre de 2014, mas foram interrompidas por
falta de verba em dezembro do mesmo ano, na gestão anterior. Em 2015, o
Executivo local retomou as negociações com o banco.
A
novidade deve beneficiar mais de 285 mil pessoas que passam diariamente pelo
local, especialmente moradores de Sobradinho, Planaltina, Lago Norte, além de
cidades vizinhas do DF, como Planaltina de Goiás e Formosa (GO).
As
medidas deverão eliminar problemas antigos, como a necessidade de recorrer à
faixa reversa em horários de pico, de segunda a sexta-feira. O aumento da
capacidade em um trecho da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia) será resultado da construção de duas novas pistas —
uma em cada sentido —, com três faixas cada uma. Serão 5,2 quilômetros de
ampliação entre o Torto e o Colorado.
O
trevo de triagem norte terá 12 obras, entre pontes, viadutos e túneis, que
ajudarão a distribuir o fluxo de veículos com destino ao Plano Piloto, levando
ao Eixo Rodoviário Norte-Sul, à W3, aos Eixinhos Leste e Oeste e à L2. Uma das
intervenções consistirá em duas vias marginais e nas respectivas pontes
paralelas à Ponte do Bragueto. Quando as pistas
estiverem concluídas, a passagem atual poderá ser destruída para dar lugar a
uma nova. Assim, o trânsito será desviado sem que a população seja prejudicada.
O local, então, ficará com três pontes.
O
Túnel Rodoviário de Taguatinga conectará a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) à
Avenida Elmo Serejo e servirá como alternativa para
quem precisa atravessar o centro da região administrativa. Na DF-047, serão
feitas obras nas vias próximo ao Balão do Aeroporto, como alargamento. Ambas
começarão neste ano.
Como
cidade planejada, Brasília deveria ser hoje exemplo na mobilidade urbana. Não
é. A capital brasileira, com 3 milhões de habitantes, segundo o Censo 2017 do
IBGE, enfrenta os mesmos problemas que outras capitais de mesmo porte. “Há um
rápido adensamento da cidade e do entorno sem controle do uso e ocupação do
solo, carência de um sistema viário eficiente e falta de políticas integradas
entre os governos federal, distrital e municipal - cidades satélites - “,
afirma o secretário dos Transportes, Paulo Barongeno.
Já
o arquiteto e urbanista Valério Medeiros cita que a “forte setorização
(bairros distante uns dos outros), resultante do desenho de Brasília, contribui
para dificultar a dinamização do espaço”. Ele lembra que a cidade detém o
título de Patrimônio Cultural da Humanidade, distinção que impede certas
mudanças em sua arquitetura.
Medeiros
afirma que, além de buscar a integração entre meios de transporte e incentivar
a população a diminuir o uso do automóvel, é preciso trabalhar com uma gestão
metropolitana. De acordo com ele, além dos cerca de 30 municípios em torno do
plano piloto — o projeto urbanístico — há cidades até de Goiás que sofrem influência
de Brasília. “Existe a necessidade de uma postura metropolitana, que considere
movimentos diários entre todas as cidades. Os municípios crescerem não é um
problema. É só necessário que esse crescimento seja acompanhado por políticas
públicas.”
A
Secretaria dos Transportes informa que foi colocado em execução o Plano de
Transporte Urbano (PTU), a fim de implantar uma “nova concepção de operação do
sistema de transporte público coletivo, fundamentada na ideia de integração
entre itinerários ônibus/ônibus e ônibus/metrô”. O órgão também aponta que
trabalha com um projeto cicloviário para Brasília e
destacou as obras no Lago Sul e no Lago Norte que preveem sinalização e o
“compartilhamento harmônico” das vias entre bicicletas e veículos.
Medeiros
vê com bons olhos os projetos de ciclovia, pois, segundo ele, Brasília já
possui uma das maiores malhas de ciclovia do País. “O terreno (da cidade) é
suave, sem grandes subidas e descidas.” O urbanista só lamenta o “preconceito”
que algumas pessoas têm em relação ao ônibus e à bicicleta, como se utilizá-los
denotasse perda de status. “É preciso uma mudança de cultura.”
A
obra de maior impacto em Brasília para a Copa do Mundo de 2014 foi a de
implantação de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), um trem urbano
com menos capacidade e velocidade que os trens do metrô, porém menos poluidor e
barulhento. A verba para a construção do VLT, que custará R$ 263 milhões e vai
ligar o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek ao Terminal da Asa Sul,
está garantida, segundo o governo do DF.
SALVADOR
A
cidade de Salvador perdeu o título de capital brasileira para o Rio de Janeiro
em 1763. Passados 254 anos, a capital baiana quer se reerguer e chegar longe,
tornando-se “Capital do Mundo”. Este é o título do projeto apresentado em 2010
pela Prefeitura de Salvador, que pretende investir em infraestrutura e
mobilidade urbana com o objetivo de preparar a cidade para a Copa do Mundo de
2014. O desafio, porém, será desafogar o trânsito e garantir acesso ao
transporte público a todos os cidadãos.
Salvador
tem os mesmos gargalos das maiores cidades do País, como excesso de carros,
aglutinamento da região metropolitana e escassez de transporte de massa. Além
disso, a topografia da cidade é acidentada, com praias e morros, cidade alta e
cidade baixa, o que dificulta ainda mais o deslocamento. “O trânsito em
Salvador é como um caminho de água. Ele escoa das partes mais altas e estreitas
para os vales, de maior fluidez. Só que isso tem sobrecarregado as principais
vias, que ficam nos vales”, explica a pesquisadora Ilce
Marília de Freitas, do Departamento de Transportes da Universidade Federal da
Bahia (UFBA).
Para
evitar congestionamentos de veículos, é necessário aumentar a eficiência do
transporte coletivo de Salvador, que transporta apenas 1,7 passageiro por
quilômetro, enquanto o ideal seria entre 2,5 e 5 passageiros por quilômetro,
segundo Ilce. A ineficiência se deve a falhas na
cobertura do itinerário dos ônibus, baixa frequência das viagens e tarifa (R$
2,30) considerada cara pela população de baixa renda. Isso explica por que 25%
a 30% da população se deslocam a pé todos os dias, um índice alto. “Andar a pé
ou de bicicleta é bom, mas não serve para grandes distâncias”, diz Ilce.
O
pacote “Salvador, Capital do Mundo” reúne mais de 20 projetos de mobilidade,
entre eles a ampliação da Avenida Paralela, uma das principais vias da cidade,
e a construção de duas novas avenidas. O principal projeto é a implantação do
sistema de Trânsito Rápido de Ônibus (BRT, na sigla em inglês), inspirado no
modelo de Bogotá, na Colômbia. O BRT soteropolitano prevê 20 km de vias,
tráfego em corredores exclusivos e ligação com o aeroporto e com a zona
metropolitana.
Orçado
em valores da época em R$ 570 milhões, ele faz parte da segunda etapa do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal e deve ficar
pronto em 2013, segundo a prefeitura. “O sistema foi escolhido porque é três
vezes mais barato que o metrô e aproveita condições de infraestrutura da
cidade”, afirma Renato Araújo, chefe da Superintendência de Trânsito e
Transportes de Salvador.
Para
a pesquisadora da UFBA, o sistema é bem-vindo, mas não resolverá sozinho o
problema, pois Salvador demanda transporte de grande capacidade, como o metrô.
Nesse quesito, a evolução é lenta: após oito anos de obras, a primeira etapa do
metrô (Lapa-Acesso Norte) estimava-se que ficaria concluída em 2011.
RECIFE
Pernambuco
aproveitaria a Copa de 2014 para enfatizar na qualidade do transporte público
na região metropolitana de Recife. Com isso, pretendeu incentivar a população a
usar ônibus e metrô e a diminuir o uso do automóvel. A meta é melhorar a
mobilidade urbana. O secretário das Cidades do Estado de Pernambuco, Dílson
Peixoto, explica que o objetivo é necessário porque as ruas do Recife já estão
“fartamente” ocupadas, e a frota de veículos cresce mais de 7% ao ano. “Para
piorar, por ser antiga, a cidade possui ruas estreitas e qualquer razoável obra
viária tem um custo muito alto de desapropriação.”
Peixoto,
que acumula o cargo de presidente do Grande Consórcio Recife, responsável por
gerenciar o transporte público da capital e região metropolitana, admite que
hoje não há qualidade no ônibus e no metrô. “O transporte público tem
capilaridade, mas não tem qualidade. É preciso garantir eficiência, conforto e
pontualidade para incentivar as pessoas a usá-lo, deixando o carro em casa.”
Para
o evento da Copa do Mundo, uma das metas do governo seria construir o Terminal
de Metrô Cosme e Damião. Com 39,5 km de extensão e 28 estações, a rede de metrô
do Recife é atualmente composta pela linha Centro e pela linha Sul. O terminal
ficará na linha Centro, entre as estações Rodoviária e Camaragibe. A obra
permitirá que passageiros que cheguem à rodoviária tenham acesso à linha BRT
Leste-Oeste, naquela época ainda em fase de projeto.
A
Leste-Oeste terá a implantação de Trânsito Rápido de Ônibus (BRT, na sigla em
inglês), sistema que viabiliza o deslocamento rápido dos passageiros por meio
de estações de transferência e corredores exclusivos, e vai ligar a Avenida Caxangá à Cidade da Copa, onde então seriam realizados os
jogos, em um trecho de três quilômetros, em São Lourenço da Mata. Nesta região,
o BRT fará o atendimento tanto ao terminal integrado e estação do metrô de
Camaragibe quanto ao futuro terminal e estação de metrô de São Lourenço.
Nos
mesmos moldes será o BRT Norte-Sul, que vai conectar Igarassu,
o terminal Joana Bezerra e o centro do Recife. Com 15 km de extensão, terá
conexão com os projetos Corredor da Via Mangue e Corredor Caxangá
Leste-Oeste. Este abrigará faixa exclusiva de ônibus, ligando a Avenida Conde
da Boa Vista a Caxangá, com meta de beneficiar 900
mil pessoas e 27 mil veículos que circulam pela via. Aquela será uma via
expressa de 4,5 km com corredor exclusivo de tráfego de veículos para a zona
sul da cidade. O projeto também contempla uma ciclovia.
O
consultor em transporte urbano Germano Travassos afirma que o “Recife está
caminhando para ter uma rede (de transporte) tão densa quanto à de Curitiba”. A
capital do Paraná é pioneira no País em projetos nessa área e vista como
referência. “A região metropolitana do Recife foi a que mais avançou (no País)
em termos de ações integradas.” O governo espera que essas obras deem qualidade
ao transporte público e melhorem a mobilidade urbana. Travassos, no entanto,
diz que pouco tem sido feito para dar conforto e segurança para quem usa
ciclovias. “Não temos muito o que apresentar a não ser boas intenções no
quesito bicicleta.”
CONCLUSÃO
Mais
uma vez fica evidenciada a ligação estreita dos fatores mobilidade urbana e
desenvolvimento econômico-social das grandes cidades, a exemplo da presente
abordagem da Capital Federal, Salvador e Recife.
Em
outra oportunidade abordaremos a interessante evolução do transporte coletivo e
da mobilidade urbana da Capital Mineira, encerrando esta fase de estudos que
poderão ensejar adaptações para todas as cidades em busca do desenvolvimento
social.
* Advogado, economista, contador, professor
universitário, pós-graduado em Políticas Econômicas, Metodologia do Ensino
Superior, Sistemas e Métodos, Custos Industriais, Planejamento de Transportes,
Orçamento e Contabilidade Pública.
BOCO9229—WIN