EVIDENCIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
NAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR (IES) FUNDACIONAIS CATARINENSES – MEF33914
- IR
ENELISE ADRIANA
BALLER *
FERNANDO MACIEL
RAMOS **
IVANIR SALETE
TECHIO DA SILVA ***
SANDRO VIEIRA
SOARES ****
1.
INTRODUÇÃO
Governança
Corporativa, de acordo com Slomski et al. (2008), é um o sistema pelo
qual as entidades são dirigidas e monitoradas. Por meio de mecanismos
específicos, gestores e proprietários procuram assegurar o bom desempenho da
empresa para aumento de sua riqueza.
Em
decorrência do contínuo crescimento das entidades do Terceiro Setor, nos
últimos anos, e do aumento da representatividade no País, os gestores das
organizações do Terceiro Setor veem a necessidade de demonstrar resultados aos
seus stakeholders, tais como usuários, financiadores, colaboradores e
órgãos fiscalizadores (FARIA; FONTENELE; ALVES JÚNIOR, 2009). Nesse sentido, a
governança corporativa surge com o intuito de harmonizar esta relação.
Entretanto,
o setor ainda enfrenta desafios, como a necessidade de legitimidade,
formalização legal, formas de divulgação e comunicação das suas atividades à
sociedade, sustentabilidade, captação de recursos, profissionalização da
gestão; accountability, a prestação de contas perante a diversidade do
público com interesses e usuários da organização e a utilização eficiente dos
recursos para prestar um serviço de qualidade (DRUCKER, 1997; FALCONER, 1999,
TENÓRIO, 1999; SALAMON, 2005). É neste contexto que as práticas de governança
podem contribuir como instrumento para a evolução e legitimidade das ações
desenvolvidas pelas entidades do Terceiro Setor.
Dentro
do Terceiro Setor, pode-se destacar o trabalho exercido pelas Instituições de
Ensino Superior (IES), que possuem importante papel social, tendo significativa
influência no contexto político-social, na formação cultural e na construção da
cidadania do povo brasileiro. Neste contexto, a governança surge como mecanismo
que visa otimizar o desempenho organizacional das instituições, pois elas vêm
apresentando, nos últimos anos, problemas de estrutura organizacional e
déficits operacionais, ganhando destaque no cenário brasileiro em função de
decorrentes escândalos envolvendo fraudes em operações por membros da
administração.
Casos
recentes de escândalos veiculados na mídia nacional, envolvendo instituições de
ensino, demonstram que existem problemas inerentes à gestão e fraudes nos
ambientes dessas entidades e, consequentemente, prejudicam o cumprimento dos
objetivos institucionais na formação de recursos humanos intelectuais. Nesse
contexto, a adoção de práticas de governança corporativa pelas instituições de
ensino poderia evitar ou reduzir os riscos nas falhas de gestão das
organizações, contribuindo para a sustentabilidade das instituições. enquanto a
evidenciação de tais práticas e prestação de contas nas operações realizadas
pelos administrados (gestores) das operações exercidas na gestão das
organizações pode gerar valor que resultará em uma maior segurança aos seus
diferentes usuários e partes interessadas, levando ao fortalecimento da marca
institucional.
Diante
deste contexto e considerando que as organizações do Terceiro Setor demandam
práticas que conduzam ao alcance dos seus objetivos, mitiguem o distanciamento
entre a instituição e seus stakeholders e legitimem as suas atividades,
esse estudo ocupa-se da seguinte questão de pesquisa: Quais são as práticas de
governança corporativa das Instituições de Ensino Superior do Terceiro Setor
catarinense? E, para responder à questão, a pesquisa tem como objetivo geral
identificar as práticas de governança corporativa adotadas pelas IES do
Terceiro Setor do Estado de Santa Catarina.
A
implementação das práticas de governança corporativa possibilita uma gestão
mais criteriosa e transparente, buscado maximizar os resultados das entidades.
Neste sentido, um estudo dos princípios e práticas de governança corporativa
aplicáveis ao Terceiro Setor pode fornecer subsídios relevantes no momento da
adesão ou reavaliação das práticas utilizadas pelas entidades, de modo que a
pesquisa pode trazer benefícios no sentido de promover informações relevantes
às entidades e seus stakeholders. O estudo pode ser utilizado como fonte
de consulta por gestores de entidades do Terceiro Setor, mais especificamente
Instituições de Ensino Superior que possuem interesse na implementação,
avaliação e discussão acerca das práticas de governança corporativa.
A
pesquisa direcionada às IES de Santa Catarina permite a identificação das
práticas utilizadas por este segmento; assim a realização da pesquisa
proporciona o conhecimento da situação atual, permitindo possíveis ajustes nos
procedimentos já aplicados pelas instituições de ensino.
O
Terceiro Setor tem extrema importância na sociedade, pois a sua iniciativa
busca o benefício comum, nasce a partir da carência do Estado e Mercado em
atender as necessidades da população. De acordo com Manolescu e Oliveira
(2010), as organizações sem fins lucrativos formam uma das expressões mais
verdadeiras de cidadania e participação social, sendo que o setor ganha um
espaço cada vez mais fortalecido na economia, com geração de renda e
participação econômica no País. Sendo assim, é relevante estudar essas
organizações, por conta da importância social, em função de sua capacidade de
mobilização de recursos e atendimento às demandas sociais.
No contexto teórico, esse estudo
contribui para o desenvolvimento da discussão acadêmica da governança no
contexto das entidades do Terceiro Setor, uma vez que se observa que os estudos
relacionados à governança corporativa são majoritariamente direcionados às
entidades do primeiro e segundo setor, ou seja, setor público e privado. Além
disso, os estudos identificados no Terceiro Setor voltam-se à análise da
governança em um único órgão, tais como Leal e Famá (2007), que buscaram
identificar as práticas de governança corporativa em uma instituição
hospitalar; Tsai e Yamamoto (2005), que desenvolveram uma análise comparativa
entre o setor privado e o Terceiro Setor; e Ávila e Bertero (2016), que
desenvolveram um estudo de caso em uma fundação de apoio universitário. Assim,
esse trabalho diferencia-se dos já realizados, pois o foco de análise é um
conjunto de organizações de um segmento específico, ou seja, Instituições de
Ensino Superior.
Este artigo está estruturado em
cinco seções, sendo a primeira aquela em que são apresentados os aspectos
introdutórios, sendo segunda pela revisão do referencial teórico acerca da
temática; e a terceira seção a apresentação da metodologia. Na quarta seção, é
realizada a análise dos dados. Por fim, na última seção, são apresentadas as
considerações finais do estudo.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Nessa seção é apresentada uma
discussão teórica acerca dos elementos que compõem o Terceiro Setor e as
práticas de governança aplicáveis às organizações desse setor, e estudos
correlacionados, de modo a permitir um panorama geral da literatura acerca das temáticas
analisadas nesse estudo.
2.1 Terceiro Setor
Diversas são as linhas de
investigação acadêmica que explicam o surgimento e evolução das entidades do
Terceiro Setor. E, entre elas, a que parece ser mais bem aceita pela comunidade
acadêmica é a decorrente da Ineficiência do Estado e Falha do Mercado. Salamon
(1998) discorre em seu trabalho que o surgimento desse grupo de organizações
deu-se devido à Ineficiência do Estado e a Falha do Mercado em conseguir suprir
e atender às necessidades e às demandas sociais plenamente.
O Terceiro Setor é composto de
instituições que não são nem entidades governamentais, nem iniciativas do setor
empresarial e que atuam como atores intermediários entre o Estado e a
sociedade, na provisão de bens e serviços de interesse de diversos segmentos
sociais (AMARAL, 2007).
É possível definir a expressão
Terceiro Setor como a designada para a definição das entidades de iniciativa
privada sem fins lucrativos que desenvolvem suas atividades para atender às
necessidades coletivas e públicas, de modo a contribuir para a geração de um
bem comum (SALAMON; ANHEIR,1996; FISCHER, 2002; SILVEIRA, 2007; CRUZ., 2010).
Esse setor diferencia-se do primeiro setor por não estar presente na estrutura
do Estado; e, do segundo setor, por não visar distribuição de seus resultados
aos seus instituidores e, sim, no reinvestimento dos seus resultados na própria
atividade (SILVEIRA, 2007; SALAMON, 2008). Segundo
Merege (2008), a maioria das organizações do Terceiro Setor nasceu a partir de
projetos bastante específicos. Segundo o autor, estas organizações são
constituídas por verdadeiros empreendedores, que, diante de situação sociais de
desigualdade, resolvem dedicar o seu trabalho à transformação de pessoas e
proporcionar melhoria nas condições de vida da população menos privilegiada. De
acordo com Coelho (2002), o objetivo escopo do Terceiro Setor é o de orientar e
estimular mudanças na sociedade e focalizar seus esforços em favor da
comunidade ou para grupos específicos.
Ao
se tratar das características das entidades do Terceiro Setor, a mais relevante
é a de que as entidades não desenvolvem atividades com fins lucrativos e seus
trabalhos focam-se na solidariedade (GARAY, 2011). Na visão de Salamon (2008),
o Terceiro Setor é um amplo conjunto de organizações autônomas de caráter
privado, que não distribuem lucros para seus membros e não são ligadas ao
governo. Nessas organizações, as pessoas são livres para decidir se
participarão, ou seja, são organizações voluntárias.
Para
Salamon e Anheir (1996), para ser classificada como Terceiro Setor, a
instituição precisa apresentar cinco características básicas: (i) formalização
e institucionalização; (ii) ser privada, separada do governo; (iii) sem fins
lucrativos (sem distribuição de lucros); (iv) autogoverno, capacidade para
controlar suas próprias atividades, e; (v) voluntária, em que exista
participação de voluntários.
A
qualificação das instituições que constitui este setor foi instituída pela Lei
nº 9.790, de 23 de março de 1999, mais conhecida como Lei do Terceiro Setor,
que traz o enquadramento das organizações descritas com “entidades sem fins
lucrativos”. As entidades do Terceiro Setor são regidas pelo Código Civil (Lei
nº 10.406/2002, com as introduções trazidas pelas Leis nos 10.825/2003 e 11.127/2005) e juridicamente
constituídas sob a forma de associações ou fundações.
No
Brasil, o primeiro estudo realizado sobre o setor pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), em 2002, apontava a existência de 276 mil
entidades sem fins lucrativos, e correspondia a 5% do total de empresas
registradas do País. Em 2005, havia 338,2 mil entidades ligadas ao Terceiro
Setor cadastradas de acordo com a classificação do Cadastro Central de Empresas
(Cempre), um aumento de 22,5% comparado com os dados levantados no ano de 2002
(FASFIL, 2012).
Dados
da Fasfil (2012) demonstram que as fundações e associações sem fins lucrativos
oficialmente constituídas no Brasil, em 2010, totalizam o conjunto de 556,8 mil
entidades, das quais 290,7 mil eram Fundações Privadas e Associações sem Fins
Lucrativos, que empregavam cerca de 4,9% dos trabalhadores brasileiros, com
média de trabalhadores por instituições de 7,3, correspondendo a 2,1 milhões de
pessoas, recebendo remuneração média mensal de R$1.667,05, que envolviam um
total de recursos na ordem de R$46,2 bilhões.
Considerando
os dados apresentados acima, o Terceiro Setor tem importante papel na
sociedade, pois supre necessidades ignoradas pelo setor público (Governo),
auxiliando e atuando nas lacunas deixadas por este, busca o bem-estar social da
população, gera considerável influência social e econômica e movimenta recursos
econômicos consideráveis. Sendo assim, a governança corporativa surge com uma
ferramenta para auxiliar o desempenho das instituições com o intuito da
melhoria dos resultados das organizações, além de transmitir maior confiança
aos stakeholders.
2.2
Governança Corporativa no Terceiro Setor
Governança
Corporativa pode ser entendida como conjunto de práticas que regem o
relacionamento entre acionistas e cotistas a partir da distribuição de direitos
e responsabilidades entre os diferentes indivíduos da corporação, como os
administradores, acionistas, conselhos e demais partes interessadas, incluindo
empregados, fornecedores, clientes. Com o intuito de auxiliar no processo
decisório, a governança corporativa é considerada mecanismo de monitoramento
que permite a asseguração do melhor funcionamento da empresa com o propósito de
aumento de sua riqueza (CARVALHO, 2002; STEINBERG, 2003; AGUILERA, 2005;
SLOMSKI et al., 2008).
De
acordo com o Relatório Cadbury (1992), a governança corporativa é expressa por
um sistema de valores que rege as organizações, em sua rede de relações
internas e externas, que refletem os padrões da companhia, os quais, por sua
vez, demonstram os padrões de comportamento da sociedade. De acordo com o
Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, elaborado pelo IBGC
(2009), a governança corporativa possui quatro princípios básicos:
Transparência, Equidade, Prestação de Contas (accountability) e
Responsabilidade Corporativa.
No
Quadro 1, são apresentados os conceitos dos autores relativos ao princípios
apresentados pelo IBGC.
Quadro 1 -
Princípios da Governança Coorporativa
Princípio |
Descrição |
Base
teórica |
Transparência |
Divulgação
de informações de fatores tangíveis e intangíveis que permitem a criação ou
ao aumento de valor da organização |
Vargas
(2008) |
Prestação
de contas |
Responsabilidade
da organização de prestar contas perante os diversos públicos que têm interesses
legítimos diante delas. Refere-se à prestação de contas da fundação aos seus
interessados. A atuação dos agentes da governança é dotada de
responsabilidades e oportunidades, já que o cumprimento dessa obrigação gera
credibilidade e confiança, interferindo positivamente em futuras parcerias. |
Falconer (1999); Vargas (2008) |
Equidade |
Refere-se
a uma concepção de distribuição justa, que respeita a igualdade de direitos.
Justiça e igualdade no tratamento de todos os stakeholders da
fundação-o governo, doadores, fornecedores ou os beneficiários diretos dos
recursos arrecadados. |
Vargas
(2008) |
Responsabilidade
corporativa |
Zelo
pela sustentabilidade e continuidade da fundação, preocupação pela ordem
social e ambiental em suas operações |
Martins
e Martins (2014) |
Fonte: Dados da Pesquisa (2017).
Considerando
que as práticas de governança corporativa foram desenvolvidas para empresas,
com vistas a auxiliar o relacionamento entre gestores e acionistas, no Terceiro
Setor, a sua utilização promove o alinhamento dos interesses entre a gestão e
os stakeholders dessas entidades, de modo a contribuir para o sucesso
das mesmas (ALVES; DUQUE; SANTOS, 2016).
Os
princípios do IBGC, inicialmente direcionados às organizações empresariais,
podem ser adaptados, objetivando-se a respectiva aplicação às organizações não
governamentais sem fins lucrativos, as quais constituem Terceiro Setor (MILANI
FILHO, 2009).
Em
uma organização transparente, os usuários podem ver o direcionamento das ações
administrativas e operacionais adotadas por seus gestores. É possível, então,
avaliar o rumo da organização por meio das prestações de contas, da equidade e
da responsabilidade corporativa (SANTOS; DUQUE; ALVES, 2016). Sobre accountability,
Falconer (1999) considera que uma das responsabilidades da organização é de
prestar contas perante os diversos públicos que têm interesses legítimos diante
delas. E o autor complementa que um ponto muito importante da accountability
para as organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que, além de
proporcionar mais valor à entidade, apresenta-se como uma forma de estratégia
competitiva no mercado.
De
acordo com Martins e Martins (2014), as entidades do Terceiro Setor devem
considerar o princípio de transparência, pois esta significa a comunicação interna
e externa de seu desempenho e de suas ações para com os recursos públicos
transferidos para elas. Essa prática não se restringe às informações
financeiras obrigatórias, mas, com ênfase, às informações voluntárias de
diferentes naturezas que reduzam a assimetria entre todos os stakeholders
(MILANI FILHO, 2009).
De
acordo com Leal e Famá (2007), o foco na transparência e na prestação de
contas, associado à constante avaliação da gestão, possibilita uma melhor
comunicação, mais resultados e maior criação de valor. Entre as práticas
voltadas aos princípios da transparência e prestação de contas, a pesquisa
identificou que 14% das instituições têm a conduta de publicar informações
relativas a Planejamentos Orçamentários e de divulgar a Prestação das suas Contas
e 29% divulgam os demonstrativos contábeis.
O termo accountability se
refere à prestação de contas da fundação aos seus interessados. Assim, a
atuação dos agentes da governança é dotada de responsabilidades e
oportunidades. O cumprimento dessa obrigação gera credibilidade e confiança,
interferindo positivamente em futuras parcerias ou projetos, até mesmo
internacionais (VARGAS, 2008).
Cruz (2010), em sua tese voltada
à relevância da informação contábil para os investidores sociais privados de
entidades do Terceiro Setor no Brasil, evidencia a importância da utilização de
dados contábeis. Aborda que, com a divulgação das informações, permite-se a
verificação do atendimento da entidade em relação as suas finalidades, e aos
seus fins específicos e estimula o interesse de novos parceiros nos propósitos
da entidade.
Em estudo realizado por Silveira
e Borba (2010), encontraram como resultado um percentual de 67% de conformidade
das demonstrações contábeis com preceitos de transparência relacionados à prestação
de contas. Os autores concluíram a necessidade de aprimoramento das
demonstrações para a melhor evidenciação das ações das instituições com
finalidade social, necessidade tanto de se aprimorar a transparência quanto da
conscientização na divulgação das informações por parte das instituições.
Neste sentido, artigo publicado
por Rodrigues e Malo (2006) argumenta que, por se tratar de um empreendimento
comunitário, as estratégias devem ser dinamizadas (estimuladas), tornadas
públicas, para que haja uma mobilização maior, um engajamento mais efetivo dos
membros e sua motivação não só para a causa, mas também para a gestão da
própria organização.
Tsai e Yamamoto (2005) relatam
que a competência e a eficiência das entidades do Terceiro Setor, em conjunto com
a transparência de suas atividades, gera um ciclo em que a evidenciação das
informações por parte das organizações mostra a seriedade do trabalho de
maneira confiável, aumenta a credibilidade da instituição e agrega valor à
organização.
Em relação ao princípio da
Equidade, Tsai e Yamamoto (2005) mencionam que ele não é aplicável ao Terceiro
Setor, já que neste segmento não há acionistas minoritários e majoritários e,
sim, investidores e parceiros que contribuem com valores diferentes, mas não
são proprietários da organização.
O princípio de Responsabilidade
Corporativa, segundo Martins e Martins (2014), é o zelo pela sustentabilidade e
continuidade da fundação, além da preocupação pela ordem social e ambiental nas
operações realizadas. Deve-se zelar pela perenidade da organização
(sustentabilidade, visão de longo prazo).
Schimith
e Chagas (2009) mencionam que a adoção dos princípios e práticas da boa
governança pode ajudar o processo de gerenciamento administrativo e financeiro
dessas entidades, seja pela reorganização de sua estrutura interna, seja pela
atração de doações motivadas por essas mudanças.
Segundo
Milani Filho (2009), a principal diferença do Terceiro Setor, em relação aos
outros no aspecto da governança, baseia-se na inexistência de acionistas com
direito ao recebimento de benefícios econômicos, ou seja, dividendos.
Tsai
e Yamamoto (2005), em análise comparativa entre o setor privado e o Terceiro
Setor, identificaram algumas práticas de governança corporativa do setor
privado que são aplicáveis às entidades do Terceiro Setor, tais como: (i)
Apresentação das demonstrações do fluxo de caixa; (ii) publicação de relatórios
de contas, relatório anual, contendo informações relevantes do ano, sejam elas
de âmbito administrativo, contábil ou social; (iii) A auditoria; (iv) Criação
do Conselho de Administração e Conselho Fiscal; e (v) criação de códigos de
ética/ conduta.
Leal
e Famá (2007), em estudo realizado em uma instituição hospitalar, identificaram
algumas práticas de governança corporativa aplicada pela entidade; a existência
do Conselho Fiscal que fiscaliza as atividades do Conselho Deliberativo;
Treinamento dos conselheiros, com o intuito de profissionalização dos gestores;
realização de prestação de contas; publicação de relatório anual, com
informações do âmbito administrativo, contábil e social; criação e
implementação do código de ética.
A
governança corporativa diz respeito à forma de gestão estratégica da
organização, assim como à administração das relações de poder entre as partes
interessadas, tais como acionistas, gestores, financiadores, cooperados,
empregados e até agentes externos, como a sociedade, o Governo e órgãos
reguladores. A governança no Terceiro Setor é uma forma de auxiliar na busca
por eficiência, no sentido de promover-o alinhamento dos interesses entre a
gestão e os stakeholders; apresenta-se como importante possibilidade de
aprimoramento dos mecanismos de evidenciação dos preceitos relacionados à
gestão dessas organizações.
2.3
Estudos Relacionados
Em
frente ao assunto proposto, são apresentados estudos já publicados em que foi
analisada a governança junto às entidades do Terceiro Setor. Leal e Famá (2007)
estudaram a governança utilizando uma organização que administra um hospital do
câncer, e concluíram que grande parte dos princípios e práticas de governança
corporativa, como ética, responsabilidade corporativa, prestação de contas e
transparência, é aplicável ao Terceiro Setor. Em estudo de caso realizado por
Fáma e Leal (2007), os autores identificaram as seguintes práticas de
governança corporativa exercidas em uma instituição do Terceiro Setor, sendo:
conselho fiscal, profissionalização dos gestores, transparência e prestação de
contas, publicação do código de ética/conduta. E em seu estudo reiteraram que o
princípio de equidade não é aplicável ao Terceiro Setor.
Nogueira,
Garcia e Ramos (2012) realizaram um trabalho buscando investigar, em uma
Instituição de Ensino Superior pública, em que aspectos a sua gestão
aproxima-se dos elementos componentes da governança corporativa e suas relações
com a responsabilidade social da instituição. Os pesquisadores constaram que a
instituição estudada está de acordo com os princípios e práticas da governança
corporativa, trazendo à tona a necessidade de que as instituições, públicas ou
privadas, têm de agir de forma proativa em relação às demandas sociais
Em
trabalho realizado, Mota, Nassif e Siqueira (2014) buscaram avaliar o modelo de
gestão do esporte educacional Instituto Passe de Mágica (IPM) em frente à
governança corporativa no Terceiro Setor, tendo como resultado a existência de
problemas decorrentes da falta de um modelo de gestão. Entretanto, algumas
Práticas de governança foram evidenciadas, tais como os princípios da
Transparência e da Ética e adoção de auditoria externa. Vale destacar que o
pesquisador sugeriu a realização de outros estudos voltados ao modelo de gestão
e os princípios da governança em outras organizações do Terceiro Setor em
decorrência de carência de informações sobre o setor, sobretudo na literatura
brasileira e pela relevância deste tipo de organização no contexto brasileiro.
Silveira
e Borba (2010) verificaram o nível de evidenciação contábil apresentado por
instituições pertencentes ao Terceiro Setor, tendo por amostra um total de 39
fundações, e como objeto principal de verificação da prestação de contas nos
períodos de 2004, 2005 e 2006. Eles encontraram como resultado um percentual de
67% de conformidade das demonstrações contábeis com preceitos de transparência
ligados à prestação de contas.
Junto
aos estudos já realizados direcionados à governança corporativa no Terceiro
Setor, observa-se que existe uma lacuna a ser preenchida em que se volta a
avaliar as práticas no contexto de entidades do Terceiro Setor com fins
educacionais, com o qual esse estudo visa contribuir para a discussão teórica e
empírica.
3.
METODOLOGIA
Collis
e Hussey (2005) definem que as investigações acadêmicas no âmbito das ciências
sociais aplicadas podem ser delineadas em relação aos seus objetivos,
procedimentos de coleta de dados e quanto à abordagem de análise. com o
exposto, esse estudo caracteriza-se como descritivo em relação ao seu objetivo;
quanto à estratégia de obtenção dos dados, é documental e de abordagem
quantitativa.
3.2
População e Amostra
Prodanov
e Freitas (2013, p. 98) definem que “população (ou universo da pesquisa) é a
totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para
um determinado estudo”. É possível delinear como população desse estudo as
instituições de Ensino Superior do Estado de Santa Catarina. Conforme
levantamento realizado por meio do Ministério da Educação (MEC, 2017), no
Estado de Santa Catarina, há 96 Instituições de Ensino Superior ativas, ou
seja, que estão em atividade.
De
acordo com o conceito dado por Prodanov e Freitas (2013), “amostra é parte da
população ou do universo, selecionada de acordo com uma regra ou plano”. Para
obtenção dos dados relativos à amostra da pesquisa, buscou-se no sítio da MEC
(2017) a relação das universidades e faculdades ativas sem fins lucrativos, o
que originou a amostra de 49 instituições educacionais, sendo que, dessas,
apenas 27 constituíram a amostra final, pois no relatório obtido no MEC, ele
apresenta todas as instituições em separado, independente de serem de uma única
rede de IES. Após verificação, identificou-se que as instituições vinculam as
informações em um único sítio, não tendo website individual por unidade,
tais como: CNEC, Senai, Senac, UnC, Unoesc.
3.3
Coleta e Análise dos Dados
Prodanov
e Freitas (2013) relatam que “a definição do instrumento de coleta de dados
dependerá dos objetivos que se pretende alcançar com a pesquisa e do universo a
ser investigado”. Conforme o contexto apresentado sobre governança corporativa
e os princípios apresentados pelo IBGC, criados inicialmente para organizações
empresariais, e de acordo Milani Filho (2009), podem ser aplicados em
organizações não governamentais sem fins lucrativos, as quais constituem o
Terceiro Setor. Portanto, após conhecida a população e definida a amostra do
estudo, realizou a coleta de dados para identificação de quais práticas são
divulgadas pela amostra estudada.
A
coleta de dados se deu por intermédio das informações publicadas pelas
instituições de ensino em seus sítios eletrônicos, baseando-se no check-list
elaborado a partir das pesquisas realizadas por Leal e Fama (2007) e Santos
(2015), e no Guia das Melhores Práticas para Organizações do Terceiro setor,
disponibilizado pelo IBGC (2016).
A
coleta de dados ocorreu por meio de consulta ao sítio eletrônico de cada
instituição, no período de setembro e outubro de 2017, sendo que, para a
apuração do índice de adoção das práticas de governança corporativa, foi
utilizada uma combinação binária, sendo atribuído peso 1 (um) para quando o
quesito avaliado era evidenciado pela instituição, e 0, caso contrário. Os
dados foram tabulados em planilha eletrônica para facilitar o armazenamento e
apuração dos indicadores.
Para
a análise dos dados, foram empregadas técnicas de estatística univariada
(mínimo, máximo, média, desvio padrão).
4. ANÁLISE DOS DADOS
O check-list desenvolvido
com o objetivo de traçar o nível de divulgação das instituições de ensino foi
composto de 19 práticas de governança corporativa. A análise dos dados obtidos
com a aplicação do check-list foi dividida em duas etapas. A primeira
delas trata-se de uma etapa de análise de frequência, cujas frequências
relativas apresentadas de forma pencentual constam na Tabela 1.
Tabela 1 - Práticas de Governança
Corporativa
Prática |
Quant. |
% |
Ouvidoria |
26 |
93% |
Missão |
21 |
75% |
Diretoria
Executiva |
16 |
57% |
Estrutura
Organizacional |
12 |
43% |
Relatório
de Sustentabilidade |
12 |
43% |
Conselho
da Administração |
10 |
36% |
Calendário
Atividades Desenvolvidas |
10 |
36% |
Estatuto
Social |
9 |
32% |
Conselho
Curador |
8 |
29% |
Contador
Responsável |
8 |
29% |
Demonstrações
Contábeis |
8 |
29% |
Relação
Parceiros/Fornecedores |
8 |
29% |
Conselho
Fiscal |
7 |
25% |
Regime
Interno |
7 |
25% |
Planejamento
Orçamentário |
4 |
14% |
Prestação
de Contas |
4 |
14% |
Auditoria
Independente |
4 |
14% |
Auditoria
Interna |
2 |
10% |
Treinamentos
Conselheiros |
1 |
4% |
Fonte:
Dados da Pesquisa (2017).
Conforme resultado apresentado
na Tabela 1, identificou-se que a implantação do órgão Ouvidoria pelas
instituições é a prática mais evidenciada, com um percentual de 93%. A prática
apresenta-se como meio de intermediação, no qual é possível diálogo entre o
usuário e a entidade (interessado e portador da informação), prática que
permite que a entidade possa repassar informações que sejam necessárias e de
interesse de seu usuário. De acordo com o IBGC (2009), a existência de canais
de acesso disponibilizados a stakeholders, e ouvidorias pode conferir
maior transparência ao relacionamento da organização com partes interessadas.
Esse achado pode ser explicado devido à recomendação do Ministério da Educação
para que as IES tenham dentro da sua estrutura organizacional a Ouvidoria,
sendo esse quesito de avaliação para credenciamento e recredenciamento das IES.
Observou-se que, das
instituições na amostra, 43% divulgam possuir Estrutura Organizacional e 57%
apresentam diretoria executiva. Relativamente aos conselhos, 36% apresentam
Conselho da Administração e Conselho Fiscal (25%), Auditoria Independente
(14%). Para a eficiência da governança corporativa, Leal e Famá (2007) destacam
a atuação dos seguintes agentes: o conselho de administração, diretor executivo
(CEO), auditoria independente e conselho fiscal, pela relevância das funções
que desempenham, principalmente, para o processo de prestação de contas,
equidade e transparência.
O conselho fiscal,
caracterizando-se por Mindlin (2009) como uma parte obrigatória de governança,
aumenta a confiabilidade na administração da entidade; tem a função de
fiscalizar os administradores, comentar a respeito de diversas situações
internas e informá-las aos stakeholders.
Outro agente de boas práticas de
governança corporativa é o Conselho Curador, sendo que este agente apresenta-se
em 29% das instituições analisadas. Segundo Martins e Martins (2014), órgão de
controle institucional, possui número de membros maior em relação ao Conselho
Fiscal e tem como funções controle dos recursos humanos, de orçamentos e
revisões nos planos anuais, análise e aprovação dos relatórios da instituição.
Segundo Maciel (2005), o
conselho curador possui atribuições, como a aprovação de admissão e controle de
funcionários, de planos de cargos e salários, de orçamentos referentes às
aplicações de recursos da fundação e também revisões nos processos internos,
sendo um órgão de controle institucional.
Outros pontos vistos nas
instituições foram a apresentação Estatuto Social e Regime Interno (Código de
Conduta/Ética), sendo apresentado, respectivamente, no percentual de 32% e 25%.
O código de ética, de acordo com Tsai e Yamamoto (2005), disciplina a prática
profissional, ressalta princípios de atuação responsável e propõe condutas
éticas elevadas a serem seguidas pelos seus associados e serve como referência
para todos.
Relativamente à apresentação do
Estatuto Social, Mendonça e Machado Filho (2004) apontam importância a este
quesito. Em decorrência de conflitos de agência no Terceiro Setor, torna-se uma
ferramenta para verificação das ações exercidas pelos gestores, se estas estão
de acordo com os objetivos estatutários para os quais foi constituída a
organização, sendo de interesse de doadores ou financiadores da entidade.
No que diz respeito à Missão da
entidade, Milani Filho (2009) cita que as organizações do Terceiro Setor
direcionam seus esforços para cumprir a missão social que justifica a própria
existência, com o propósito de atrair recursos públicos e privados para a
respectiva manutenção. A evidenciação de informações sociais deveria ser,
portanto, um ato pertinente, sendo que, das instituições analisadas, 75%
evidenciam sua missão como entidade social.
Dentro das práticas
identificadas que tiveram menos divulgação pelas instituições, temos
Planejamento Orçamentário, Prestação de Contas, Auditoria Independente com
percentual de 14%, Auditoria Interna 10% e Treinamentos Conselheiros 4%.
A
auditoria representa um importante mecanismo contábil para analisar os
registros e controle contábeis, constituindo-se, em síntese, em um conjunto de
ações de assessoramento e consultoria para o usuário, possibilitando que este
possa ter maior segurança acerca da veracidade das informações contidas nos
relatórios e demonstrativos contábeis (ATTIE, 2009).
Perto
da contextualização realizada no que tange às práticas de governança
corporativa aplicáveis ao Terceiro Setor, na Tabela 2 é apresentada a lista das
instituições analisadas com o respectivo percentual de divulgação das práticas
de governança corporativa avaliadas.
Tabela 2 -
Percentual de Evidenciação por Instituição
Instituição |
Percentual
(100%) |
Universidade
do Planalto Catarinense (Uniplac) Universidade do
Sul de Santa Catarina (Unisul) |
78% |
Universidade do
Contestado (UNC) |
68% |
Faculdade
Luterana de Teologia (FLT) |
63% |
Universidade
Alto Vale do Rio do Peixe (Uniarp) Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) |
53% |
Faculdade
Senac Universidade
do Extremo Sul Catarinense (Unesc) Universidade do
Oeste de Santa Catarina (Unoesc) |
47% |
Universidade do
Vale do Itajaí (Univali) |
42% |
Faculdade
CNEC Faculdade
de Tecnologia Assessoritec Faculdade de
Tecnologia Senai |
37% |
Faculdade
Católica de Santa Catarina (Facasc) Faculdade São
Luís (FSL) |
32% |
Faculdade Satc
(Fasatc) |
26% |
Faculdade
de Santa Catarina (Fasc) Faculdade
Sociesc Faculdade
Santa Rita de Chapecó Instituto
de Ensino Superior da Grande Florianópolis (IESGF) Instituto
Superior e Centro Educacional Luterano - Bom Jesus – Ielusc |
21% |
Universidade da
Região de Joinville (Univille) |
16% |
Faculdade
Barddal (FB-SI) Faculdade
FAE Blumenau Faculdade
Guilherme Guimbala (FGG) Faculdade
Refidim (Refidim) Faculdade de
Tecnologia Pedro Rogério Garcia (Fattep) |
10% |
Fonte: Dados da Pesquisa (2017).
Para
as instituições educacionais,o uso da Governança Corporativa torna-se uma forma
de gerir suas atividades e apresenta melhora na gestão das IES, permitindo
adquirir vantagens competitivas com relação à concorrência. Neste sentido, a
Tabela 2 apresenta o ranking das instituições, com percentual de
apresentação das práticas analisadas, evidenciando que a Uniplac e a Unisul
foram as instituições que mais práticas elencadas apresentaram (78%). Outra
situação que podemos destacar é que 22% das instituições apresentaram mais que
50% das práticas verificadas.
O ensino superior brasileiro vem
expandindo-se, seja no âmbito público ou privado. Encontra-se entre os maiores
mercados potenciais do mundo, sendo o maior da América Latina. Atualmente,
estão em funcionamento mais de 2.300 Instituições de Ensino Superior, mantendo
mais de 6 milhões de alunos matriculados (MONT’ALVÃO NETO, 2014).
Junto aos dados encontrados,
pode-se destacar a importância da utilização das práticas de governança pelas
IES. Conforme Lopes (2015), ao adotarem práticas de governança corporativa, as
instituições elevam o interesse de potenciais investidores. Com uma gestão
pautada por regras claras, acessíveis ao mercado e alinhadas aos interesses dos
acionistas, as instituições ganham em credibilidade do ponto de vista dos
investidores.
De acordo com Bogoni et al.
(2010), a governança corporativa propõe o uso eficiente dos recursos, bem como
o uso de mecanismos de transparência e prestação de contas. Uma boa gestão nas
Instituições de Ensino Superior é possuir uma administração profissional capaz
de conduzir a organização ao sucesso, garantindo assim a sua sustentabilidade
perante a sociedade.
Conforme Eurydice (2008), não
existe modelo predominante para a governança da educação superior, contudo,
cada vez mais, na maioria dos países, as partes interessadas externas, como
profissionais de destaque no mercado, agentes políticos e membros da comunidade
em que o campus se insere, têm assumido papéis importantes no funcionamento
interno das instituições, com o objetivo de reforçar o elo da instituição com a
economia e aumentar a eficiência interna.
Posto que a governança
corporativa preveja premissas e ações que vão além da sustentabilidade
financeira, as IES que adotam práticas de governança corporativa adotam
sobretudo uma conduta socialmente responsável, demonstrando transparência em
suas ações e valores e assegurando uma governança responsável em promoção dos
objetivos sociais, buscando a continuidade de suas ações.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Entende-se como Governança
Corporativa conjunto de práticas que rege o relacionamento entre acionistas e
cotistas a partir da distribuição de direitos e responsabilidade entre os
diferentes indivíduos da corporação, que tem por finalidade otimizar o
desempenho. No Terceiro Setor, a sua utilização promove o alinhamento dos
interesses entre a gestão e os stakeholders, de modo a contribuir para o
sucesso delas.
Este estudo identificou as
práticas de governança corporativa adotadas pelas IES do Terceiro Setor do
Estado de Santa Catarina. As instituições de ensino analisadas são entidades
sem fins lucrativos, ou seja, enquadram-se no Terceiro Setor.
A pesquisa direcionada às IES de
Santa Catarina permitiu a identificação das práticas utilizadas por este
segmento. Em frente à contextualização realizada por meio de estudos já
realizados, foi possível identificar a práticas de governança possíveis de
serem aplicadas pelas instituições do Terceiro Setor, sendo que os principais
resultados encontrados mostraram que todas as práticas elencadas foram
apresentadas ao menos uma vez.
De forma geral, identificou-se
que um percentual baixo de instituições apresentaram mais de 50% das Práticas,
demonstrando uma baixa evidenciação das práticas de governança corporativa
pelas instituições.
Cabe enfatizar que, conforme já
mencionado por Eurydice (2008), não existe modelo de governança corporativa. O
que há é um conjunto de práticas apropriáveis e que permitem a evidenciação dos
quatro princípios básicos de governança aplicáveis à transparência, equidade,
prestação de contas e responsabilidade corporativa.
Diante do resultado obtido,
identifica-se a necessidade de que todas as instituições analisadas precisam
reconsiderar a atenção ao tema e aprimorar seus métodos de evidenciação e
divulgação das práticas que podem ser aplicadas nas organizações, entretanto
não estão sendo evidenciadas para seus usuários. As entidades devem atentar
para a importância de fornecer informações úteis ao processo de gestão e avaliação
dos interessados.
No contexto teórico, esse estudo
contribui para a o desenvolvimento da discussão acadêmica da governança no
contexto das entidades do Terceiro Setor no que tange às instituições de
ensino, uma vez que a temática abordada não apresenta estudos relacionados com
visão global do setor, mas o que se possui são estudos já realizados, mas com
foco em análises individuais. O trabalho apresenta-se como um instrumento de
verificação da situação atual do setor.
Como limitação do estudo, pode-se
citar que as instituições podem estar aplicando as práticas analisadas,
entretanto não realizam a sua divulgação, sendo que os dados levantados podem
estar divergentes em relação às atividades desenvolvidas efetivamente pela
instituição. Para futuras pesquisas e considerando o baixo nível de
evidenciação identificado nesse estudo, recomenda-se estudo nas instituições,
por meio de um estudo caso, buscando identificar quais práticas são exercidas
efetivamente e quais critérios as instituições utilizam para a divulgação ou
não das práticas. Estudos avaliando os fatores que contribuem para a adoção das
práticas de governança pelas entidades do Terceiro Setor também são relevantes
para investigações futuras.
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Sudeste do Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) - Curso de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis, Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
*
Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade do Contestado.
**
Doutorando em Ciências Contábeis pela Unisinos, é mestre em Ciências Contábeis
pela Furb. É bacharel em Ciências Contábeis pela Unisul e professor titular da
Universidade do Contestado.
***
Mestre em Engenharia de Produção pela UFRGS, é bacharel em Ciências Contábeis
pela UnC e professora titular da Universidade do Contestado.
****
Pós-doutorado em Administração pela Unisul e doutor em Controladoria e
Contabilidade pela USP, é mestre em Contabilidade pela UFSC. Bacharel em
Ciências Contábeis pela UFSC, é professor substituto no Centro Universitário
Municipal de São José (USJ).
(Fonte: RBC nº 233)
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