A CRISE DA ECONOMIA E A ECONOMIA DA CRISE - MEF36535 - BEAP

 

 

MÁRIO LÚCIO DOS REIS*

 

 

                Palestra de lançamento e divulgação do livro de autoria do Professor Mário Lúcio dos Reis - Apoio do Sinescontábil - Sindicato dos Escritórios de Contabilidade, Auditoria e Perícias do Estado de Minas Gerais.

Título do Livro: Administração Pública – Estudos de Casos - Edição 2019.

                A economia do Brasil está em crise, assim como a de vários países pelo mundo afora. Esta é, talvez, a centésima crise de nossa economia, o que nos leva a crer que a bonança e a crise na economia são irmãs gêmeas e uma se reveza com a outra, cada qual por sua vez.

                Mas esta crença nossa não é inédita, eis que já fora demonstrada como certeza científica pelos economistas/médicos, autores do livro “Tratado dos Impostos e Contribuições”, o inglês William Petty e o francês François Quesnay, desde os idos do século XVII, ou seja, há mais de 300 anos, obra esta que fora traduzida para o vernáculo pelo grande economista brasileiro Dr. Roberto Campos, obra que tem sido nosso livro de cabeceira nestes tempos de interesse pelos estudos da economia política, ao qual nos reportamos mais uma vez.

                Vejamos a análise dos autores à página 47, item 2, da obra citada:

 

                “O povo acredita que o soberano pede mais do que necessita. A isso respondo que, se o soberano estivesse seguro de obter o que desejasse no momento devido, seria ele próprio o maior prejudicado por tirar o dinheiro das mãos de seus súditos, que o fazem crescer por meio dos negócios, e entesourá-lo em seus próprios cofres, onde não tem utilidade alguma para ele mesmo, tornando-se, ao contrário, um chamariz para os esmoladores, ou sendo gasto de maneira vã.”

 

                Com efeito, quando o governo arrecada mais impostos que o necessário, em pouco tempo ele próprio se torna vítima, pois terá toneladas de dinheiro em seus cofres, ou fará obras suntuosas para gastá-lo, ou mesmo o distribuirá em forma de salários e subvenções sociais, ainda que minorando a fome, a miséria, o desemprego, mas a realidade é que, se não contarmos com os lavradores para preparar a terra, semear e colher para vender os excedentes para a população urbana, esta sucumbirá, assim como o próprio governante, pois sem produção não há consumo e sem consumo não há renda; eis a crise institucionalizada: o próprio governo e os poucos ricos que por sorte ou circunstâncias conseguem usufruir da crise, morrerão de fome em cima de seus tesouros. Como prova a teoria do valor marginal da moeda, os proprietários destes tesouros os trocarão por um único prato de comida se faltar no mercado arroz, feijão e carne para comprar; ou seja, o dinheiro nada vale enquanto papel moeda, se não houver produtos a serem comprados com ele.

                Daí ser inevitável a crise, pois só com ela a população vai aprender que mais importante do que ganhar dinheiro é saber poupá-lo e gastá-lo com parcimônia, só gastando o essencial, do contrário o consumo desenfreado fará escassez até de água e energia elétrica, quanto mais de arroz, feijão e carne.

 

                O LADO POSITIVO DA CRISE

                Os autores ora em estudo expõem no item 3 a curiosa circulação da moeda e da riqueza entre a população e desta em relação ao governo, a saber:

 

                “3. Por maior que possa ser o imposto, se for bem proporcionado entre todos, ninguém sofrerá por sua causa a perda de quaisquer riquezas. Pois, como acabamos de dizer, se as posses de todos os homens fossem reduzidas à metade ou duplicadas, eles permaneceriam em ambos os casos igualmente ricos; cada um deles manteria sua condição, dignidade e nível anteriores. Além disso, o dinheiro arrecadado não saindo da nação, esta permaneceria também igualmente rica em comparação com qualquer outra; apenas a riqueza do príncipe e a do povo difeririam por pouco tempo, a saber, até que o dinheiro arrecadado de alguns fosse novamente restituído aos mesmos que o tivessem pago, ou a outras pessoas. Nesse caso, cada pessoa haveria também de ter o ensejo e a oportunidade de ficar em melhor ou em pior situação em virtude da nova distribuição ou, se tivesse perdido em uma, de ganhar contudo em outra.”

 

                O que se entende é que não existe na terra um paraíso perfeito, onde cem por cento da população se sinta feliz, dispondo de todos os recursos financeiros e materiais necessários à realização de seus ideais.

                A verdade é que, talvez pela ambição natural do ser humano, por mais próspera que seja uma nação, a riqueza tende sempre a ir se canalizando para determinadas classes sociais e em especial para os integrantes do governo, que administram a res pública.

                Esta movimentação natural da riqueza impulsiona, sem dúvida, e por certo tempo, o crescimento da economia, enquanto estes “beneficiários” que se apossam da riqueza aplicá-la em produção e poupança, gerando renda e consumo, círculo virtuoso e ideal, que favorece a toda a população.

                Entretanto, como a riqueza vai se concentrando nas mãos de determinadas classes sociais, é inevitável o sufocamento de outras categorias, no início pequenas que sequer aparecem, mas vão se avolumando e cedo ou tarde vão reagir, partindo para revoluções e golpes de estado ou saqueamentos, furtos, assaltos e sequestros.

                Isto acontece quando os ricos ficam tão ricos que perdem a consciência do produzir e poupar, partindo para gastos desenfreados com frotas de aviões, veículos de luxo, viagens internacionais, importações de toda ordem e tudo mais que tende a imobilizar a movimentação da riqueza e, pior ainda, deslocá-la para outros países, paraísos fiscais ou não, gerando o caos e a miséria para a nação.

                Nesta hora surge a crise em todas as suas versões, como: econômica, social, financeira, educacional, cultural e de segurança, que vão sempre desaguar em melhor redistribuição da renda, via rejuvenescimento e incremento da produção, do comércio e da poupança, resultando na geração de emprego, renda e consumo, fatores essenciais ao progresso e estabilidade socioeconômica de qualquer nação.

 

                CONCLUSÃO

                Com estas conjecturas podemos concluir que os fatores básicos da economia política, que são a natureza, o capital e o trabalho, possuem uma lógica incrivelmente simples para transformar o universo em um paraíso oferecido gratuitamente aos homens.

                Todavia esta lógica depende de algumas leis naturais impostas pelo Criador do Universo, que no mínimo passam por duas exigências fundamentais: solidariedade e amor ao próximo. São qualidades infelizmente muito escassas, pois deram lugar aos pecados capitais da cobiça, do egoísmo, da inveja e outros.

                Afinal por mais que o país seja pobre, quase sempre a classe média é mais numerosa do que a classe pobre. O principal motivo da pobreza extrema é a falta de emprego para os adultos em fase produtiva.

                Portanto, se cada família da classe média gerasse um emprego, tipo doméstico, motorista, jardineiro, caseiro, zelador, a taxa de desemprego despencaria para perto de zero e toda a sociedade seria beneficiada.

 

 

*Contador, Auditor, Economista, Administrador, Professor Universitário, Consultor BEAP, Auditor Gerente da Reis & Reis Auditores Associados.

 

 

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