A ECONOMIA POLÍTICA DE ONTEM E DE HOJE - MEF36640 - BEAP

 

 

MÁRIO LÚCIO DOS REIS*

 

 

                Palestra de divulgação do livro “ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - ESTUDOS DE CASOS” - Edição 2019 - Apoio do SINESCONTÁBIL - Sindicato dos Escritórios de Contabilidade, Auditoria e Perícias do Estado de Minas Gerais.

                AUTOR: Mário Lúcio dos Reis

 

                O renomado Economista brasileiro, Dr. Roberto Campos, teve em 1996 a feliz iniciativa de publicar no Brasil a tradução dos livros dos mais destacados estudiosos da teoria econômica das Américas dos últimos 400 anos, eis que por volta do ano 1622 brindaram o mundo com os títulos “Tratado dos impostos e Contribuições” e “Aritmética Política”, dentre outros. Trata-se, curiosamente, de dois profissionais da Medicina, que resolveram se apaixonar pelos estudos da economia, onde muitas vezes até comparam o funcionamento da ciência econômica com a dinâmica do corpo humano, cujas conclusões prevaleceram intactas e inatacáveis até hoje, ressalvando no máximo a curiosa forma de se expressar, hoje modernizada.

                Trata-se dos autores Willian Petty e François Quesnay, que começaram por destacar a moeda como peça fundamental da economia política, cuja quantidade em circulação tanto pode impulsionar o desenvolvimento social como causar a recessão e a pobreza de toda uma nação. Eis o texto dos prodigiosos autores:

 

                “Pois o dinheiro é a gordura do corpo político, a qual, quando em excesso, lhe perturba a agilidade e, quando insuficiente, o torna enfermo”.

 

                Com efeito, a Casa da Moeda não passa de uma gráfica como qualquer outra, só que trabalha com papel especial e técnicas apuradas para prevenir fraudes e desvios. Se o dinheiro resolvesse o problema da economia bastaria que esta gráfica funcionasse em três turnos, 24:00 horas por dia, e o salário mínimo passaria a R$ 6.000,00 por mês. Isso, todavia seria um desastre econômico, pois com R$ 6.000,00 não se compraria a comida do mês, para uma única pessoa, ou seja, o que vale não é o dinheiro e sim o produto que se tem no mercado para comprar. Costumávamos exemplificar para nossos alunos que se você tiver uma mala repleta de dinheiro, um milhão em notas de R$ 100,00, mas faltasse gêneros alimentícios no mercado para comprar, você daria toda esta riqueza por um prato de arroz, caso contrário morreria de fome no meio desse dinheiro. Essa é a teoria da utilidade marginal da moeda.

 

                O PAPEL CONTROLADOR DO GOVERNO

                Outra pérola dos autores, então tão verdadeira como o é hoje e sempre será:

 

                “A abundância de dinheiro num reino encarece as mercadorias nativas, o que, conquanto seja de proveito para a renda de alguns particulares, vai diretamente contra o benefício do público na quantidade do comércio; pois, como a abundância de dinheiro torna as mercadorias mais caras, assim a carestia delas reduz seu uso e consumo. (...)"

 

                Veja a responsabilidade do governo na regulação da quantidade de moeda em circulação; neste caso todo esse excesso tenderá a se acumular nas mãos das poucas pessoas e empresas que produzem qualquer coisa para vender à população, pois a demanda é grande, bem maior que a oferta, vez que as pessoas têm muito dinheiro para gastar, mas tão logo isto ocorra os produtores elevarão mais e mais seus preços, pois caso contrário não atenderão à demanda.

                E arrematam na sequência, salientando o equívoco do aumento da moeda em circulação:

 

                “A desgraça dessa situação é a de que se trabalharia menos, e isso é a mesma coisa que um apoucamento do povo ou de sua arte e indústria; porquanto 100 libras passando por cem mãos, como salários, produziriam mercadorias no valor de 10 mil libras, mãos que permaneceriam ociosas e inúteis se não houvesse esse contínuo motivo para seu emprego.”

 

                A inflação estimula fortemente a especulação financeira e desestimula o trabalho, o investimento produtivo e a poupança, de tal forma que mesmo os poucos que ela enriquece rapidamente passam a observar que estão entesourando uma moeda papel que a cada dia vale menos, pois o pouco que existe para comprar, a cada dia se compra menos com maior volume de dinheiro. A situação tende a ser desesperadora.

                O baixo volume de moeda em curso também impede a produção, o consumo e a circulação, tanto de dinheiro como dos bens produzidos, ou seja, torna emperrado o mercado, de cuja movimentação depende a economia.

                Realmente é cabível a comparação do dinheiro na economia com o coração que precisa receber e distribuir o sangue na medida exata para manter o corpo, sem lhe causar explosão da energia ou fraqueza generalizada.

 

 

                CURIOSIDADES DA ECONOMIA

                Os tradutores da obra em estudo abrem parêntese para evidenciar um caso prático bem brasileiro, qual seja:

 

                Conviria talvez aqui inserir uma nota interessante. Para o Brasil de Getúlio Vargas que assistiu, durante a grande depressão dos anos 30, à queima de milhões de sacas de café, a fim de sustentar os preços e a renda interna, em face do colapso do mercado internacional parecerá profética a recomendação de Petty, quase três séculos atrás: “Pois, se não pudermos negociar nossos tecidos com outros (países) (...) seria melhor queimar o produto do trabalho de um milhar de homens do que deixar esses 1 000 homens perderem, pelo desemprego, sua capacidade para o trabalho.”

 

                O Governo é detentor do monopólio de emissão de moeda por motivos óbvios. Daí uma de suas funções básicas é imprimir o dinheiro, colocá-lo e mantê-lo em circulação na economia. Tomara que se desincumba dessa tarefa de maneira eficaz, que é pagando salários justos e honestos a seus servidores, comprando bens e serviços para sua manutenção, contratando serviços e obras para disponibilizar as ações de saúde, ensino, transporte, segurança e mesmo assistência social, distribuindo dinheiro para inclusão social, como é o caso do bolsa família, bolsa escola e outros.

                Isto significa que o governo alcançará o nível de excelência o dia em que conseguir manter toda a população sendo remunerada, em geral por seu próprio trabalho e emprego, como também os inativos, que afinal são consumidores e como tal impulsionam a economia.

                A curiosidade que já restou provada como também eficiente, se e quando necessária, é o conjunto de medidas aparentemente desastradas, com jeito de retrocesso, como é o caso de se pagar centenas ou milhares de homens para carregar pedras de uma montanha para outra, como já se viu contar da antiga Civilização Romana, bem como os casos brasileiros de queima de milhões de sacas do café, já tendo ocorrido o mesmo com cebola e até com o leite.

                O excesso de determinadas mercadorias no mercado faz com que percam seus valores de venda, resultando na perda do emprego de todos que trabalharam naquela produção. A retirada destes excessos do mercado permite que a máquina produtora volte a funcionar, gerando novamente empregos, salários e renda. Modernamente tem-se evitado esta destruição com a compra da produção pelo governo, que a retornará ao mercado tão logo se regularize a demanda.

 

                CONCLUSÃO

                Deste pequeno resumo procuramos mostrar a grande importância da sensibilidade política e social dos dirigentes de uma nação, que só alcançarão êxito se estiverem focados na dignidade humana, vendo em cada membro da população um ser que almeja a felicidade e que, para tal, pode necessitar do apoio e incentivo governamental e dos próprios compatriotas.

                Os governantes da Era Moderna, infelizmente, excluíram a religião do rol de fatores que se entrelaçam na busca destes objetivos sociais, tais como a educação formal, a saúde, a segurança, o transporte, etc.

                Entendemos que a ideia de Deus apresentada pela religião, como um ser sublime, criador de tudo e de todos os homens, completaria o conteúdo das ferramentas da promoção social, acima citadas, suprindo aquilo que os governantes, enquanto seres humanos falíveis, não conseguem ver, descobrir e fornecer à pessoa.

 

 

*Contador, Auditor, Economista, Administrador, Professor Universitário, Consultor BEAP, Auditor Gerente da Reis & Reis Auditores Associados.

 

 

BOCO9579---WIN/INTER

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