CIDADANIA E CIVILIDADE - PALAVRAS ESQUECIDAS PELA EDUCAÇÃO? - MEF37073 - BEAP

 

 

MÁRIO LÚCIO DOS REIS*

 

 

                Palestra de divulgação do livro “ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - ESTUDOS DE CASOS” de autoria do Professor Mário Lúcio dos Reis - Apoio do SINESCONTÁBIL - Sindicato dos Escritórios de Contabilidade, Auditoria e Perícias do Estado de Minas Gerais.

                Nos últimos dias a população brasileira foi bombardeada pelo deprimente noticiário policial do Estado do Espírito Santo e já surtindo reflexos na forma de iguais movimentos em outros Estados, como Rio de Janeiro e Pará, com risco de caminharmos para o caos da segurança pública em todo o país.

                Trata-se do movimento coletivo em busca de melhoria salarial da polícia, organizado pelas esposas de militares, bloqueando acesso aos quartéis para impedir a troca de turnos, resultando no abandono de toda a população à própria sorte no que tange à segurança pública.

                O resultado disso em dez dias foi de 127 assassinatos, mais de 300 estabelecimentos comerciais foram saqueados, 666 veículos furtados ou roubados e a população inteira enclausurada, pois além do verdadeiro campo de guerra em que se tornaram as cidades, todo o comércio fechou as portas, assim como os bancos, escolas e os órgãos públicos. Situação que só agora começa a clarear com a chegada da Força Nacional, através do Exército, para garantir a paz e a ordem pública no Estado.

 

                PROBLEMA NACIONAL DE MÉDIO E LONGO PRAZO

                O verdadeiro caos de segurança pública em que se viu metida a população capixaba, no nosso entendimento, apesar de muito grave, é um alerta, sobretudo para os políticos dos Três Poderes e de todas as esferas de governo, para os professores, a imprensa, enfim, todos os formadores de opinião e de pessoas, de que a paz social não poderia ser tão dependente assim da força policial. Se a esse ponto chegou, é sinal de que a sociedade está se deteriorando, tal o assustador aumento da quantidade de bandidos em relação ao número de pessoas de bem. Precisamos, portanto, cada homem de bem, fazer uma reflexão íntima e profunda sobre como estamos orientando, ensinando, educando nossos jovens, pois os bandidos que promovem essa baderna estão na idade de nossos filhos, nossos netos, nossos alunos, portanto são frutos do que para eles plantamos.

                Se fizermos esta reflexão, todos os pais, avós, políticos e professores, entenderão o que já dizem há milênios os filósofos, de que na educação mais vale um bom exemplo do que mil palavras. E que bons exemplos temos demonstrado? Vários dos nossos líderes políticos estão na cadeia ou sendo investigados por corrupção, fraudes e desvios; a comunicação dos pais com os filhos está sendo substituída por redes sociais e aplicativos da internet que ensinam muito diferente do que os pais a moda antiga ensinariam. Neste tocante é importante adaptar as mudanças sem que se perca o que vale a pena ser ensinado e aprendido; nossos professores estão orientados para lecionar as ciências exatas e sociais, mas sem um tempo para falar da tradicional “Moral e cívica”, da ética, da civilidade e da cidadania.

 

                A PRÁTICA DO ENSINO

                Como professor universitário sempre entendemos que tão importante quanto formarmos pessoas letradas em matemática, física, contabilidade, ou qualquer que seja sua formação, é formamos pessoas que respeitam as leis e as autoridades, praticam os princípios éticos, respeitam os direitos sociais e protegem o meio ambiente. Assim, adotávamos o critério de ao final de cada capítulo da Contabilidade Gerencial que lecionávamos reservar cinco minutos para relacionar a matéria dada com a legislação, com os princípios éticos, com a moral e a cidadania, perante a sociedade e o meio ambiente em que vivemos. Mas não nos livrávamos do constrangimento de ser chamado pela chefia do departamento para escutarmos que alguns alunos reclamaram que o Professor de Contabilidade Gerencial gostava de “dar lição moral” para os alunos. Afinal, não é por estar na aula de matemática ou de química que o aluno pode jogar no chão o papel de bala ou a embalagem de lanche, atender ao celular, agredir o colega ou o próprio mestre. O professor precisa sim ensinar ao aluno a respeitar a autoridade do mestre, o direito dos colegas e do meio ambiente, não importa em qual disciplina ou grau de ensino se esteja laborando.

                O problema maior do ensino não nos parece mais ser a insuficiência de vagas nas escolas: Programas especiais como o FUNDEF, atual FUNDEB, transporte escolar, piso salarial do professor, Bolsa Escola e UMEIS contribuíram para uma infraestrutura de ensino que pode ser considerada satisfatória; nos arriscamos a falar que falta melhorias é na grade de ensino, com inclusão no currículo de disciplinas, tipo moral, cívica, cidadania, ética e meio ambiente, buscando a formação do cidadão completo, não só do profissional.

                Com efeito, mais de 90% de nossos ex-líderes políticos que se encontram na cadeia ou em vias de ir são portadores de ensino superior, pós-graduados e até doutores, numa clara demonstração de que o nível de escolaridade não garante quanto a estatura moral e ética do homem.

 

                O PAPEL DA POLÍCIA

                A polícia é de extrema importância e essencial em qualquer lugar do mundo, porém seu papel é a manutenção da ordem pública nos casos excepcionais em que a lei e os costumes são atacados por uma minoria, que são os bandidos. Se na ausência da Polícia o caos se instaura, dá-se a impressão de que vivemos numa sociedade de bandidos, onde os homens de bem é que são presos em casa e tolhidos em seu direito de ir e vir, já que as ruas são ocupadas por criminosos. Isto nos lembra de que a crise não é de segurança pública e sim de ética, de moral, de civilidade, de cidadania, enfim, de educação. Passa a ocorrer o chamado “efeito manada”, como aconteceu no Espírito Santo, onde um pequeno grupo de bandidos inicia o quebra- quebra e o saqueamento das lojas, sendo acompanhados pelos transeuntes, pessoas tidas como de bem, mas que se aproveitam da baderna para também levar vantagem, tanto que alguns se arrependeram, voltaram atrás para devolver os produtos saqueados, graças ao pouquinho conteúdo de ética e respeito ao bem alheio que receberam na vida.

                A polícia é e precisa continuar sendo a última barreira da segurança pública; antes dela a paz social tem que ser garantida pelo arcabouço legal, pela justiça e demais instituições do Estado Democrático de Direito, tudo isto resultante da formação moral e ética, dos bons costumes e do respeito para com a sociedade.

 

                CONCLUSÃO

                De tudo que foi exposto e analisado concluímos que os lamentáveis episódios noticiados recentemente foram mais graves e desastrosos na grande Vitória/ES, mas tendem a se generalizar em todo o país se não forem tomadas medidas emergenciais pelo governo, não só na área de segurança pública, como já ocorreu com a Força Nacional, mas também na área educacional, para gerarmos em nossos jovens e crianças não apenas profissionais materialistas, mas, sobretudo, homens íntegros, honrados, respeitadores da lei, dos costumes, do meio ambiente e da própria ordem pública.

                Caso contrário poderão se repetir situações caóticas como está em que trabalhadores, estudantes e até turistas ficam enclausurados em casa e nos hotéis porque as ruas, avenidas e praias estão ocupadas por bandidos. Terrível sensação de que se caminha para a necessidade hipotética e absurda de termos um guarda particular para cada pessoa de bem que se deslocar para o trabalho, para as escolas para os pontos turísticos.

Tudo isto sem prejuízo do essencial apoio ao Policial quanto à remuneração treinamento, armas, equipamentos tecnológicos e adequada quantidade de efetivos.

 

 

*Contador, Auditor, Economista, Administrador, Professor Universitário, Consultor BEAP, Auditor Gerente da Reis & Reis Auditores Associados.

 

 

BOCO9632---WIN

REF_BEAP