23/11/2023 - Notícia - Mercado de trabalho reproduz desigualdade
racial, aponta Dieese
Apesar de representar 56,1% da população em
idade de trabalhar, os negros correspondem a mais da metade dos desocupados
(65,1%), diz pesquisa.
O mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial, não
apenas a inserção, mas as possibilidades de ascensão são desiguais para a
população negra. A análise é do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos (Dieese), entidade criada e mantida pelo movimento
sindical brasileiro.
Dados compilados pela entidade revelam que a taxa de desocupação dos negros é
sistematicamente maior do que dos demais trabalhadores. Apesar de representar
56,1% da população em idade de trabalhar, os negros correspondem a mais da
metade dos desocupados (65,1%).
A análise foi feita com base nos dados do 2º trimestre de 2023, da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A taxa de desocupação dos negros é de 9,5%, sendo 3,2 pontos percentuais acima
da taxa dos não negros. No caso das mulheres negras, que acumulam as
desigualdades de raça e de gênero, a taxa estava em 11,7%. O Dieese apontou que
a inserção das mulheres negras no mercado de trabalho é mais difícil, mesmo no
contexto atual de melhora da atividade econômica.
Para uma melhor base de comparação, a entidade lembrou que, no segundo
trimestre de 2021, durante a crise econômica da pandemia de covid-19, a taxa de
desocupação dos trabalhadores não negros atingiu este mesmo percentual (11,7%).
“Mesmo com a indicação do crescimento da atividade econômica, o mercado de
trabalho continua reproduzindo as desigualdades sociais. Os trabalhadores
negros enfrentaram mais dificuldades para conseguir trabalho, para progredir na
carreira e entrar nos postos de trabalho formais com melhores salários. E as
mulheres negras encaram adversidades ainda maiores do que os homens, por
vivenciarem a discriminação por raça e gênero”, concluiu o relatório do Dieese.
Quando conseguem ocupação, as condições impostas aos negros são piores. Segundo
avaliação do Dieese, em geral, essa parcela da população consegue se colocar em
postos mais precários e têm maiores dificuldades de ascensão profissional.
Apenas 2,1% dos trabalhadores negros - homens ou mulheres - estavam em cargos
de direção ou gerência. Entre os homens não negros, essa proporção é de 5,5%.
Isso significa que apenas um em cada 48 trabalhadoras/es negros está em cargo
de direção ou gerência, enquanto entre os homens não negros, a proporção é de
um para cada 18 trabalhadores.
A proporção de negros empregadores também é menor: 1,8% das mulheres negras
eram donas de negócios que empregavam funcionários, enquanto entre as não
negras, o percentual foi de 4,3%. Entre os homens negros, o percentual ficava
em 3,6%; entre os não negros, a proporção foi de 7%.
A informalidade é maior entre os negros. Quase metade (46%) dos negros ocupados
estava em trabalhos desprotegidos, ou seja, empregados sem carteira, trabalho
por conta própria, com empregadores que não contribuem para a Previdência ou
trabalhadores familiares auxiliares. Entre os não negros, essa proporção foi de
34%.
Uma em cada seis (15,8%) mulheres negras ocupadas trabalha como empregada
doméstica, uma das ocupações mais precarizadas em termos de direitos
trabalhistas e reconhecimento. As trabalhadoras domésticas negras sem carteira
recebiam, em média, R$ 904 por mês, ou seja, valor R$ 416 abaixo do salário
mínimo em vigência.
“Na construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida, não se pode deixar
que mais da metade dos brasileiros seja sempre relegada aos menores salários e
a condições de trabalho mais precárias apenas pela cor/raça ou pelo gênero”,
apontou a entidade.
O levantamento revelou ainda que o fato de os negros estarem em maior proporção
em postos de trabalho informais e com menor remuneração explica apenas parte da
diferença de remuneração entre negros e não negros. No segundo trimestre de
2023, os negros ganhavam, em média, 39,2% a menos que os não negros.
Mesmo quando comparados os rendimentos médios de negros e não negros na mesma
posição na ocupação, os negros estão em desvantagem. Em todas as posições
analisadas, o rendimento dos negros é menor. Segundo o Dieese, isso é uma
evidência de que, além das desigualdades de oportunidade, os negros enfrentam
tratamento diferenciado no mercado de trabalho.
De acordo com o Dieese, é necessário amplo trabalho de sensibilização para que
todas as políticas públicas sejam desenhadas e implementadas com o objetivo de
atacar o problema das desigualdades, especialmente no mercado de trabalho. “O
caminho a ser percorrido é longo, mas o trajeto precisa ser feito com
determinação e agilidade”, finalizou.
Edição: Valéria Aguiar
Fonte: Portal da Agência Brasil ( https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-11/mercado-de-trabalho-reproduz-desigualdade-racial-aponta-dieese